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Como o câncer afeta a saúde mental?
Os cuidados com as emoções são essenciais na busca pelos melhores resultados no tratamento
Estamos no Janeiro Branco, mês que visa trazer para toda a população a importância da saúde mental. Conversamos com Caio Henrique Vianna Baptista, psicólogo do Hospital São Luiz (Rede D’or) e presidente da Sociedade Estadual de São Paulo de Psico-Oncologia, para entender como manter os cuidados das emoções durante o tratamento oncológico. Vem ler!
Impactos do diagnóstico de um câncer
Se você é paciente oncológico, ou conhece alguém que recebeu o diagnóstico, já deve saber que, definitivamente, não é algo fácil de ser enfrentado. Embora a ciência tenha avançado muito nos tratamentos, sentir medo e angústia no momento da descoberta de uma neoplasia é muito comum. Isso porque, de acordo com o psicólogo Caio Vianna, o câncer foi construído na sociedade como algo ligado à morte e à dor.
“Isso ainda está perpetuado. Então a saúde mental do paciente é diretamente afetada desde o momento que ele recebe a notícia de que ele tem uma doença oncológica ou onco-hematológica. Esse paciente tinha planos, desejos, e ele não vai conseguir concretizar no tempo e da forma que gostaria. Neste momento, a vida vai precisar de algumas pausas, para que o tratamento possa ocorrer de maneira mais adequada. Então essa quebra do controle dos planos pode afetar a saúde mental, trazendo doenças emocionais como depressão, ansiedade, estresse, crises de pânico, dentre outros, fazendo com que o paciente precise de apoio psicológico e/ou psiquiátrico”, explicou.
Todos os sentimentos merecem atenção
Raiva, tristeza, ansiedade, medo são emoções inerentes ao ser humano e que podem surgir a qualquer momento da vida, de maneiras bem individuais. No diagnóstico e durante o tratamento oncológico, claro, não é diferente. Agora, é importante observar se estes sentimentos estão atrapalhando no dia a dia, por exemplo.
“Como psicólogo, entendo que todos os sentimentos precisam de muita atenção. Um paciente oncológico, quando recebe o diagnóstico, pode chorar, gritar, ter medo. Mas também é muito importante ficar atento para aquele paciente que não esboça sentimento algum. Muitas vezes, esses movimentos de negação também são uma manifestação psicológica que exige atenção. É preciso normalizar o processo de tristeza, porque ficar triste é um bom indício de saúde mental. É comum que tudo aquilo que vai contrário ao que queríamos possa causar angústia, ansiedade. O problema é quando esses sentimentos ultrapassam o limite, como por exemplo, o paciente não conseguir fazer um bom tratamento porque tem medo. Nesses momentos precisamos direcioná-lo para um suporte emocional. A própria negação tem um limite. A partir do momento que o paciente nega que aquela doença é dele, ele também pode demorar mais tempo para procurar ajuda e até mesmo atrasar o tratamento. É importante estar atento e procurar apoio especializado”, comenta Caio.
Depressão, ansiedade e estresse. Você sabe a diferença?
Embora possam parecer sentimentos muito parecidos, há diferenças relevantes.
Segundo o psicólogo Caio Vianna, a depressão se caracteriza normalmente por um estado de paralisia da vida, uma tristeza, uma apatia, em que o paciente entra num processo que vai além da tristeza habitual. Receber uma notícia ruim e ficar triste, como vimos, é um processo natural do ser humano. Mas depois de um tempo, o normal é sair da posição de tristeza para uma posição de enfrentamento do problema. Na depressão, a tristeza não tem vias de elaboração, ou seja, a pessoa não consegue sair dela, ainda que não tenha mais razão para sua existência.
Já a ansiedade, no senso comum, está muito ligada à uma agitação, a pensamentos em situações que ainda nem aconteceram. Ela passa a ser um problema quando não se consegue organizar os próximos passos da vida, por conta da preocupação com todo o entorno, com questões que ainda estão por vir. Este sentimento também pode gerar sintomas físicos, psicossomáticos. O paciente com grau elevado de ansiedade pode ter diarreia, fraqueza nas unhas, apresentar febres, ter dores musculares por conta da tensão, dentre outros.
O estresse, por sua vez, pode ser uma reação da ansiedade. Ele pode ser uma forma da ansiedade se manifestar e se caracteriza quando a pessoa está num estado de tensão o tempo todo.
Cuidados com a saúde mental durante o câncer
Cuidar dos sentimentos não é tão difícil quanto pode parecer. Separamos aqui algumas dicas:
- Praticar exercícios é muito importante para a mente, isso porque ao movimentar o corpo, o cérebro passa a liberar serotonina, o “hormônio da felicidade”.
- Se alimentar de maneira saudável e balanceada, com frutas, verduras e legumes, estimula os níveis de energia e disposição ao longo do dia.
- Dormir bem é passo essencial para a saúde mental.
- Estar ao lado de quem se ama, dividindo histórias e situações especiais, também ajuda muito no bem-estar.
- Falar com um profissional da Psicologia ou Psiquiatria pode ser fundamental. Não tenha vergonha de compartilhar seus sentimentos.
“Existem diversas maneiras de lidar com as emoções durante o tratamento oncológico. A primeira coisa que precisamos saber é que não existe uma receita certinha/padrão, que vai dizer como lidar com o câncer. Cada um tem um repertório emocional do que é a doença. É importante ter em mente que não está só e que buscar pelo apoio de um profissional especializado na Psico-Oncologia é crucial nos cuidados com as emoções e saúde mental”, finaliza Caio.
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