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Saúde mental em meio ao coronavírus. Como fica?
A saúde física é o assunto do momento. Mas cuidar do bem-estar e da qualidade de vida também é essencial
O coronavírus chegou trazendo diversos sentimentos para toda a população, em especial o medo e a ansiedade, por conta de sua gravidade. Para os pacientes oncológicos, essa sensação fica ainda maior, por serem do grupo de risco. A saúde física passou a ser o tema central das discussões, mas e como fica a saúde mental durante a pandemia da COVID-19?
Para falarmos sobre a importância do bem-estar neste momento, entrevistamos o psicólogo Caio Vianna Baptista, responsável pelas áreas de Oncologia e Onco-Hematologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Como lidar com os diversos sentimentos que uma situação como esta, que estamos vivendo no Brasil e no mundo por conta da COVID-19, acaba nos trazendo?
Caio Vianna – O coronavírus de fato trouxe sentimento de medo e comportamentos de ansiedade e, justamente por fazerem parte do grupo de risco, os pacientes oncológicos se sentem mais inseguros. Mas o que é o medo? Ele é um misto de ansiedade, com um aspecto de humor deprimido, muitas vezes. Então, para o paciente oncológico, a partir do momento que ele tem um câncer e precisa tratar, ou para aquele paciente que já está em tratamento ou até mesmo no pós-terapêutica, esse medo é potencializado porque este é um tipo de paciente que entende muito bem o que está passando. E a pandemia coloca em xeque a resiliência, que é a capacidade de lidar com as adversidades. Mas é possível enfrentar tudo isso cuidando-se, seguindo as instruções dos órgãos de saúde, do isolamento social adequado. Quando a pessoa se apropria de que está fazendo tudo certo para protegê-la, a sensação de medo tende a se dissipar e se tornar mais leve.
A chamada “quarentena” também é algo que ainda não tínhamos vivenciado. E é incerto quando voltaremos ao “normal”. É possível dizer que o isolamento social pode ser responsável por desencadear a depressão?
Caio Vianna – Temos pensado muito em voltar ao “normal” e com isso nos esquecemos de viver o agora, o momento que está acontecendo. Muitos sentimentos de depressão podem acontecer não só por conta do isolamento social, mas também pelo grande fluxo de informações que recebemos todos os dias, por meio dos noticiários e até mesmo de colegas. Com isso, os pacientes oncológicos, muitas vezes, acabam ouvindo essas notícias e tendem a se deprimir mais.
E como mudar este cenário?
Caio Vianna – Para começar, é importante filtrar as informações. É preciso saber o que está acontecendo, mas, derepente, não é necessário assistir aos jornais todos os dias. No isolamento social é importante também que façamos uma série de eventos em nosso dia, ou seja, que possamos organizar uma rotina. Isso tende a diminuir a depressão e nos dá uma sensação de utilidade e produtividade maior. Um outro ponto que tem ajudado muito, e que muitos artigos científicos têm mostrado, é a importância da prática de atividades físicas. Se o paciente tiver autorização do fisioterapeuta, se exercitar é uma excelente opção para combater a depressão, já que trará uma sensação de bem-estar maior. E, claro, devemos continuar cultivando nossas relações pessoais, conversando com pessoas que gostamos ou estudando algo que achamos interessante.
Os idosos podem sentir mais esse período de afastamento?
Caio Vianna – Com a vinda da pandemia vimos que existe um fator social muito forte, que enxerga a velhice ligada a muitas perdas de cunho social, mental e biológico. A nossa sociedade, infelizmente, associa a velhice à doença, fragilidade, falta de beleza, e isso é um grande problema. A pandemia agravou essa situação, já que os idosos são parte do grupo de risco. E quando pensamos em grupo de risco, pensamos em pessoas com comorbidades crônicas, câncer, pressão alta. E mesmo não percebendo, colocamos essas pessoas à margem da sociedade. A velhice não é uma doença. Esta é uma etapa de vida que deve ser respeitada e é preciso prezar pela autonomia dos idosos. Eles acabam sentindo mais o isolamento social, porque talvez o vínculo social para eles era a ida aos locais. Ao banco, à padaria, à casa dos amigos. Por isso, é importante que a família mantenha o contato, fazendo ligações, já que para alguns a tecnologia pode não ser tão fácil de ser usada. A organização da rotina também é bem importante para a população desta faixa etária.
Como ter pensamentos positivos diante de tantas notícias tristes que vemos diariamente nos veículos de comunicação?
Caio Vianna – Este é um momento de rever valores e ações. Quantas vezes focamos tanto no trabalho e aí esquecemos de visitar aquela pessoa que gostamos tanto? Ou até mesmo de conversar e oferecer carinho para quem mora junto? Precisamos ter a capacidade de planejar para não termos pensamentos negativos. Se hoje estamos nos cuidando para não contrair a COVID é por um motivo maior. Fazemos isso porque pensamos no futuro. E tais reflexões são muito necessárias. Ter um objetivo a cumprir também faz com o que os pensamentos negativos sejam minimizados. Embora estejamos em um momento muito difícil, é possível encontrarmos caminhos para que esta situação nos traga coisas boas. O acesso a nossa espiritualidade também pode ajudar. E não estou relacionando este tema a uma religião. A ideia aqui é pensar no outro, seja por qual meio for.
O atendimento psicológico é sempre importante! Num momento de pandemia, de que maneira a terapia pode ajudar?
Caio Vianna – Sem sombra de dúvidas o atendimento psicológico é importante durante um momento de pandemia. Isso porque esta é uma situação nova e, tudo que é novo, pode gerar estresse. Por exemplo, quando começamos um emprego novo, no qual precisaremos nos adaptar ao chefe novo, a uma rotina nova. E contar com um profissional especializado ajuda a olhar para este novo mundo, a manejar os medos, as angústias. Somos seres humanos e, muitas vezes, sozinhos, não conseguimos dar conta dos problemas. O psicólogo não deve ser acionado somente quando há um distúrbio mental. Ele é essencial para diferentes momentos de vida.
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